Sobre a vida, o carnaval e o amor:

Nelson
2 min readMar 6, 2025

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Escrevo em um período muito particular do ano, uma época do ano que é especial, sobretudo para aqueles que têm uma conexão aprofundada com a cultura brasileira e fluminense, mas também para todos aqueles que sentem falta daquele sentimento quente e molhado que Chico Buarque dizia ser “uma alegria fugaz, que se chamava Carnaval!”. Existem algumas considerações e reflexões que gostaria de fazer sobre este tema, enquanto alguém que se arroga intelectual versado em cultura, e, talvez, como um bom amante da existência.

A primeira delas, é que, se existe algo que une a vida, o carnaval, e o amor, seria o fato de que todos consistem em narrativas bem definidas, com começo, meio e fim. Toda narrativa construída pelo homem é, também, uma simulação do real, na medida em que para construir uma narrativa, o homem articula elementos do real que absorve para si no processo de assimilação do meio, conhecido como aprendizado. A mais importante delas, implícita, a estrutura da própria existência do ser: nascer, crescer, viver, envelhecer, deixar de ser. Assim, também é com o carnaval, que tem seu início, seu clímax, e seu fim bem definido, hoje mesmo, na Quarta-Feira de Cinzas, e como asseverou Sidney Miller, na música “nós os foliões”, assim também é, de forma ou outra, com o amor.

Outra semelhança entre a vida, o carnaval, e o amor, porém, dessa vez mais animadora, é que em cada um dos casos existe um desejo de gozo, em que Eros supera Thanatos, e é dessa potência de gozar o ser, desejo meu e seu, até do maior dos niilistas, que a vida encontra sentido, ainda que particular, fugaz e tolo. A existência da finitude nos faz gozar a vida, a existência da quarta-feira de cinzas nos faz sambar o triplo, antes de voltar à rotina. Assim também é com o amor, quando se sente muito e intensamente, o medo da ausência do outro pode nos levar a loucura, mas também, pode nos fazer desfrutar em gozo cada vez mais de cada memória.

Se eu pudesse escolher, contudo, diria que gostaria de um amor que durasse toda uma vida, e com isso, muitos carnavais, até encontrar seu fim, em um descanso orgulhoso.

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Nelson
Nelson

Written by Nelson

Filósofo, estudante de R.I e analista político.

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