Guia básico de Xadrez- módulo 1:

Nelson
17 min readApr 11, 2020

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Prefácio:

Este pequeno guia de Xadrez surgiu da minha necessidade de organizar todos os meus conhecimentos sobre o tema, ao mesmo tempo em que aprendo mais sobre este que é um dos jogos/esportes mais antigos da humanidade. Desde já explico que não sou um jogador de nível avançado. Me encontro no nível intermediário batalhando para compreender melhor o jogo. Portanto, este guia serve a todos aqueles que conhecem os movimentos das peças e regras básicas do jogo, mas sofrem para conseguir melhorar seu nível de jogo. Os convido a melhorar junto comigo.

Gostaria de agradecer, sem mais delongas, ao meu rival neste jogo que muito significa para mim. Ao, de certa forma, te iniciar nos tabuleiros nunca imaginei que seria superado de forma tão humilhante, e que isso me traria de volta este imenso desejo de progredir e então supera-lo pelo meu próprio esforço. Lhe agradeço por isso meu irmão.

Assinado, o autor.

Primeiros passos:

Antes de tudo, quando iniciamos nesse mundo mágico de combinações e peças, devemos observar o tabuleiro. É nesse grande quadrado, dividido em 64 quadrados menores, dispostos em linhas horizontais e verticais e em duas cores, que se passam todas as nossas batalhas.

Observemos o tabuleiro:

Tabuleiro de Xadrez , visto da perspectiva de quem joga com as peças brancas.

Podemos desde já, destacar algumas coisas facilmente observáveis quando estamos diante do tabuleiro, e já conhecemos as regras do jogo:

1- A maior parte das peças grandes, Torre, Bispo e Rainha, exceptuando os Cavalos, que tem a habilidade de passar por cima de outras peças, necessitam que movamos peões para que estes possam entrar em jogos. A fileira de peões obstrui o movimento da maior parte dessas peças.

No Xadrez chamamos tal ato, de abrir passagem com o peão e botar tal peça em jogo, de “desenvolver” esta peça.

2- Podemos observar que tanto as peças brancas, quanto as pretas, na posição do começo do jogo, partilham de um ponto fraco comum. O peão, e a casa, na frente de seu respectivo “Bispo do Rei”, localizado em F2 para brancas e F7 para pretas.

Tal fraqueza se dá pois qualquer peça inimiga que ocupe esta casa no início do jogo, se suportada por outra peça, pode tanto aplicar um Cheque-Mate, improvável contra jogadores já experientes, quanto um “garfo” com Cavalos rumo a Torre do lado do Rei.

Isso se dá pois é o próprio monarca aquele quem defende este peão e esta casa, o que significa que, se a peça atacante está sendo suportada, esta fica imune aos ataques do Rei, pois este obrigatoriamente não pode se colocar em Cheque.

3- Podemos perceber que se trata de um jogo, com um forte fator posicional, em que dois times disputam espaço e território, em uma situação em que ambos controlam inicialmente cada um uma metade do tabuleiro, e que brancas, por sempre começar a partida e ser o time atacante, começa por “propor” o jogo e quebra este equilíbrio. As pretas, até que possam adquirir domínio do jogo e propor os rumos dessa oposição entre tensão x equilíbrio, pode no máximo conservar o equilíbrio.

4- Podemos perceber que, os Bispos que começam o jogo numa casa branca, pela dinâmica diagonal do movimento dos Bispos, sempre permanecerão em casas brancas. O mesmo vale para Bispos das casas pretas, o “Lado da Rainha”.

Seguindo nesta linha, podemos observar que Cavalos que estão em casas brancas, obrigatoriamente terminarão seu movimento em “L” em uma casa preta, e vice-versa. Tal conhecimento, por mais inútil que possa parecer, ajuda bastante quando vemos que nosso inimigo está em uma posição propensa ao “garfo” mas não sabemos como “parar” nosso Cavalo na casa que desejamos.

Fase de abertura- Sobre Peões e Cavalos e a dinâmica do controle do centro:

No capítulo anterior, tomamos nota de que:

1-Para “desenvolver” a maior parte das peças boas temos que mover peões antes.

2-Existem pontos fracos na formação em que as peças se encontram no começo do jogo.

3-E que este se trata de um jogo com forte caráter territorial e de dominação de áreas geográficas no tabuleiro .

Após todas essas certezas, de certo muitas dúvidas me afligiram. Imagino que isso possa ocorrer com a maior parte dos leitores. Tudo bem, já entendemos que para “desenvolver” a maior parte das peças fortes, devemos mover os peões primeiro, e que se existem pontos fracos na formação inicial inimiga, deve ser interessante se utilizar disto, tomando consciência de que o jogo preza pela dominação de áreas e espaços no tabuleiro. Isso é até fácil. Mas como executar tudo isso? Pior ainda, como executar tudo isso ao mesmo tempo, em um jogo, contra uma outra pessoa, que utiliza relógio e cronometra cada jogada?

De fato, isso tudo é muito complicado. Sobretudo quando tem que ser executado de forma simultânea. Ainda assim, os Grandes Mestres do Xadrez não nos deixaram na mão. Após muito estudo, em eras longínquas, a maior parte dos notáveis jogadores de Xadrez pode perceber que o segredo para um bom começo de jogo, isto é, a fase chamada pelos enxadristas de “Fase de Abertura”, pode ser sintetizado em uma única e simples diretriz :

Controlar o “Centro do Tabuleiro”. Mais especificamente as casas D4,D5,E4,E5.

Demonstração visual do centro do tabuleiro.

Na imagem acima, conseguimos visualizar tais casas destacadas em vermelho. De forma a tornar mais simples a compreensão do conceito. Mas afinal, por que é melhor dominar o centro do tabuleiro?

Vejamos o motivo disto na imagem abaixo:

Opções de movimento, ou seja área coberta: cavalos ao centro x cavalos nas pontas.

Além do fato de que por ser o centro do tabuleiro, essas quatro casas, D4,D5,E4,E5, representam um importante espaço em que as peças de ambos os times constantemente obrigatoriamente terão de cruzar ao longo da partida, o que já torna o domínio destes pontos do tabuleiro por si só muito valioso, é observável que boa parte das peças tem sua força potencializada no “Centro do Tabuleiro”.

Para entender tal conceito, basta reparar que na imagem acima, o “Cavalo do Rei” do lado branco, ao se posicionar em F3, próximo ao centro, tem demarcadas em vermelho suas oito possibilidade de movimento e ataque, enquanto que o “Cavalo da Rainha” do lado preto, ao se posicionar em A6, na ponta do tabuleiro, tem demarcadas em azul suas míseras quatro possibilidades de movimentos e ataques.

Podemos então, quantificar que um Cavalo próximo ao “Centro do Tabuleiro” dobra o seu potencial ofensivo, pois este tem o dobro de possibilidades de movimentos e ataques. Isso, claro, não ocorre apenas com o Cavalos, embora esta seja a peça que mais sente a diferença em seu potencial ofensivo quando colocado na ponta do tabuleiro, ou próximo ao centro.

Por que isso ocorre?

Fazendo uma sátira aos dias atuais, poderíamos responder que isso ocorre por que o Xadrez é um jogo medieval, e que pelo menos nesse domínio, a “terra plana” ainda impera. Tal comportamento das peças se dá, quando movimentadas estas entre pontas e centro do tabuleiro, pela própria formatação do tabuleiro, um quadrado plano em duas dimensões, e não uma figura tridimensional, como uma esfera ou um cubo. De forma que quando colocadas nas pontas, as peças perdem boa parte de suas possibilidades de movimentos e ataques, e quando colocadas ao centro, na maior parte dos casos, podem desfrutar de seu pleno potencial.

Depois que compreendemos a importância do controle do “Centro do Tabuleiro”, para a partida, mas sobretudo para a “Fase de Abertura”, tanto para oposição “tensão” x “equilíbrio”, o controle da hegemonia do jogo, quanto para desenvolver suas peças com pleno potencial, devemos voltar a pergunta inicial deste capítulo:

Muito legal tudo isso que foi escrito. Bem demonstrado mesmo, repleto de imagens. Mas como articulo tudo isso, ao mesmo tempo, e abro passagem para as “Peças Grandes” utilizando meus peões de forma que eu não apenas os sacrifique sem nenhum propósito?

A reposta para tal pergunta, também já foi extensivamente pensada por Grande Mestres do Xadrez, na verdade esta foi provavelmente a maior questão a ser debatida por todos os enxadristas que nos antecederam. Não por acaso os Grandes Mestres de Xadrez da maior parte dos povos e nações do globo, se utilizando destes princípios, elaboraram uma série de propostas e temas de aberturas, calculando todas as possibilidades de movimento para si e para seu adversário, em um trabalho insano e árduo.

A que conclusão eles chegaram? Bom, que se pode começar uma partida de Xadrez de muitas formas, movimentando os oito Peões disponíveis e os dois Cavalos que podem saltar por cima dos Peões, mas que dentro dessas possibilidades, quando nossos critérios são o “domínio do centro” e “desenvolver” outras peças para que estas possam participar do jogo, algumas opções são bem melhores que outras.

Um bom exemplo, se dá quando observamos os dois Peões centrais de cada time, “Peão do Rei” e “Peão da Rainha”. Ambos tem a possibilidade de ocupar, e atacar ao menos uma casa no centro em seu primeiro lance. Com isso, tal movimento oferece domínio ofensivo e ocupação material de pelo menos metade das casas que compõe o “Centro da Tabuleiro”, ou seja, o “Domínio Parcial” do centro.

Vejamos na imagem abaixo:

Clássica jogada de abertura, “Peão do Rei”

Não por acaso, aberturas que começam com o movimento de avanço de duas casas com o “Peão do Rei”, ou “Peão da Rainha”, estão entre as mais populares em todo o mundo e em todos os tempos. Tanto para jogadores de nível amador quanto para jogadores profissionais. Tais jogadas óbvias e até intuitivas, representam um direto domínio de metade do “Centro do Tabuleiro”, ao mesmo tempo em que tornam possível o desenvolvimento de novas peças para serem jogadas. Na imagem acima, ao abrir seu jogo com “Peão do Rei” E4, nosso jogador hipotético, ao mesmo tempo em que adquire “Domínio Parcial” sobre o “Centro do Tabuleiro”, abre caminho para o desenvolvimento de seu “Bispo do lado do Rei”, e sua Rainha.

Munidos de tais entendimentos, e para entender melhor a dinâmica entre tensão e equilíbrio que nos acompanha durante toda e qualquer partida de Xadrez, observemos a imagem abaixo:

Demonstração visual da área coberta pela abertura simultânea do “Peão do Rei” em ambos os lados.

Ao fazer uma jogada simétrica, mexendo seu “Peão do Rei” para a casa E5, o jogador hipotético que controla as peças pretas “restaurou” o equilíbrio aparente na batalha entre peças brancas e peças pretas no tabuleiro. Ambos os lados dominam então cinquenta por cento do “Centro do Tabuleiro”, e estão em aparente igualdade. Mas o jogador das peças brancas é o próximo a jogar, enquanto que até este ponto, tudo que o jogador das peças pretas pode fazer é seguir “apagando incêndios” propostos por seu adversário.

Vejamos como isso se dá na próxima imagem:

Abertura do “Peão do Rei”, quando o cavalo entra em cena.

Ao observar a imagem acima, tomemos nota de que todos os quadrados que aparecem em vermelho, são quadrados ocupados ou que podem ser atacados pelas peças brancas, enquanto que todos os quadrados em azul, são os ocupados ou que podem ser atacados pelas peças pretas. Como podemos ver, tal lance com Cavalo sendo jogado ao centro, como já descrito antes, oferece muitas possibilidades de movimentos e ataques para o Cavalo.

No caso específico da imagem acima, enquanto as o jogador das peças pretas ocupa uma casa do “Centro do Tabuleiro”, e ataca outra, o jogador das peças brancas ocupa uma casa do centro, e pode atacar todas as outras três. Em uma situação de aparente “Domínio Total” do centro, mas que ainda tem de ser efetivada. Até mesmo o “Peão do Rei” das peças pretas, que ocupa o centro na casa E5, se não for suportado por outra peça preta, está sob severa ameaça do Cavalo inimigo e pode vir a tombar.

Como responder a isso? Vejamos alguns exemplos abaixo:

Jogo simétrico, “Cavalo do Rei”.

Na imagem acima vimos novamente o jogador imaginário das peças pretas dar uma resposta simétrica a seu adversário hipotético que utiliza as peças brancas. Nesse momento de tal partida, ambos o times ocupam, com peças sem nenhum tipo de suporte, ao menos uma casa no centro do tabuleiro e podem atacar com Peão e Cavalo as outras três casas que não ocupam.

Tal equilíbrio, porém, como vimos antes, é ilusório. O próximo a mover peças é o jogador que utiliza as brancas. Este pode mover seu Cavalo para pelo menos quatro posições ofensivas, em uma dessas possibilidades, inclusive derrotando e tomando o “Peão do Rei” inimigo, podendo inclusive posicionar seu Cavalo na casa E5 e ameaçar um ataque contra o ponto fraco F7 das peças pretas, antes que seu oponente faça o mesmo.

É bom que se diga, que esta não é uma posição ruim. Após perder seu peão em E5, tal jogador poderia tranquilamente tomar o de seu adversário, em E4 e depois disso impedir ou sabotar o avanço do jogador que utiliza as peças brancas.

Mas é importante frisar que se nada for feito pelo jogador que controla as peças pretas no sentido de tomar a hegemonia do jogo, pela forma que se dá a dinâmica de “tensão x equilíbrio” no Xadrez, se o jogo for simétrico, brancas provavelmente vencerão. Pois tomarão posições estratégicas primeiro e poderão lançar um ataque fatal antes de seu oponente.

Que outras opções o jogador que utiliza as peças pretas poderia tomar?

Vejamos na imagem abaixo:

Possibilidade defensiva como resposta: “Cavalo da Rainha”.

Antes de tudo, devemos lembrar que nosso critério é:

Tomar o centro do tabuleiro ao mesmo tempo em que desenvolvemos peças grandes para o jogo.

Mas não podemos nos apegar a critérios ideais, e nos esquecer do óbvio, que a realidade material insiste em gritar em nossos ouvidos:

Você nunca vai ganhar se ficar perdendo peças a toa. Tampouco irá ganhar se permitir que seu adversário proponha o jogo como quem toca um carneiro no pasto

Essa posição na imagem acima, demonstra que os critérios ideais utilizados para caracterizar uma abertura como boa ou ruim não podem descolar da realidade. Nenhuma partida de Xadrez jamais foi jogada contra tipos ideais, mesmo quando falamos de inteligências artificiais, pelo contrário, jogamos contra adversários humanos ou que simulam seres humanos. Nunca podemos nos esquecer que o jogo é uma batalha com a mente de outra pessoa, e não apenas uma linda e solitária equação matemática. Tudo o que fazemos depende de outra pessoa, sobretudo quando jogamos com as peças pretas.

Na sétima imagem, vimos que após o jogador das peças brancas lançar seu Cavalo na casa F3, o jogador que controla as peças pretas, lançou simetricamente seu Cavalo para a casa F6. Na teoria, este conseguiria possibilidade de ação sobre as mesmas quatro casas, tão disputadas, do centro do tabuleiro. Mas como também vimos antes, o “tempo” da partida, isso é, a possibilidade de propor o jogo e de ter a hegemonia na partida, estava até aquela altura com o jogador das peças brancas, o que é comum no início do jogo.

Ao apenas seguir de forma cega o critério previamente estabelecido por nós, poderíamos julgar que o movimento feito pelo jogador da peças pretas, na sétima imagem, por prover a possibilidade de movimento e ataque nas quatro casas do centro, seria melhor que o movimento executado pelas peças pretas na oitava imagem. Isso é um engano.

Levando em consideração o “tempo” da partida, e o fato de que o jogador das peças brancas é quem está propondo jogo, na oitava imagem, em um lance conservador, o jogador que controla as peças pretas abre mão de um “equilíbrio ilusório”, que seria conferido pela jogada simétrica. Este abre mão de um domínio ilusório das quatro casas do centro, por que sabe que o “tempo” não está a seu favor. E ao movimentar seu “Cavalo da Rainha” para a casa C6, defende seu Peão posicionado em E5, ao mesmo tempo em que reforça o ataque deste na casa D4.

Tal jogada, inclusive, poderia servir de preparação para o posicionamento deste mesmo Cavalo na casa D4, de forma a desenvolver potencial ofensivo da peça, podendo controlar os quadrados críticos C2 e E2, enquanto conta com o suporte do Peão posicionado em E5.

Nesse caso, o jogador que utiliza as peças pretas, abdica de um equilíbrio ilusório, pois sabe que não controla o “tempo”, mas começa a edificar uma futura posição que possa lhe fazer ditar o “tempo”, e que lhe torne aquele quem propõe o jogo.

Na maior parte das vezes, para as peças pretas no começo da partida, a jogada representada na oitava imagem é melhor que a representada na sétima.

Levando em conta nosso critério, mas sabendo que este deve ser ajustado a realidade material, como por exemplo o imperativo de defender minhas peças para não entregar uma vantagem material nas mãos do inimigo, quais outros exemplos de jogada poderiam ser feitas pelo jogador que controla as peças pretas?

Vejamos mais um exemplo na imagem abaixo:

Outra opção, seguramente mais fraca, de resposta ao lance de “Cavalo do Rei” executado pelas brancas.

Na imagem acima temos mais uma opção de reposta do jogador das peças pretas, para o lance do “Cavalo do Rei” das brancas. Em tal jogada, o jogador hipotético, percebe corretamente que pela questão do “tempo”, e da “hegemonia” não lhe serve o jogo simétrico, também percebe que é interessante preservar suas peças. Infelizmente este termina por fazer uma jogada ruim, lançando o “Peão da Rainha” em D6, para dar suporte a seu Peão do Rei em E5.

É verdade que nosso jogador acima, provavelmente impediu que seu oponente tomasse seu Peão de graça. Por outro lado, além de não ter desenvolvido nenhuma “Peça Grande”, e de não ter prognóstico de coloca-las em áreas importantes do tabuleiro, como vimos na sétima e oitava imagem, com este movimento nosso jogador bloqueia parte da trajetória de seu “Bispo do lado do Rei”, bem como acaba de montar uma “Estrutura de Peões” que dificilmente será desfeita ao longo da partida.

Os Peões só andam para frente, não podem recuar. Um recurso estratégico importante no Xadrez é que não se movimente ou se desperdice Peões com movimentos e recursos táticos, isto é conjunturais. Isso pode não impactar tanto no começo das partidas, mas fará toda a diferença no meio-jogo e no fim do jogo. Apenas faça isso se sua estratégia para o meio-jogo e para o fim do jogo convergirem com tal movimento tático e conjuntural de Peões.

No caso demonstrado acima, o jogador das peças brancas provavelmente iria continuar propondo o jogo, e em boa parte das vezes jogaria seu Peão da Rainha para a casa D4, no prosseguimento do jogo.

Fase de abertura — Bispos e o controle da distância:

Já falamos bastante sobre a “Fase de Abertura”, sobre Peões e Cavalos e o domínio do “Centro do Tabuleiro”, mas e as outras peças?

A Torre, é uma peça de alto potencial ofensivo, e que, em geral, demora a ser desenvolvida. Já a Rainha, iremos tratar dela mais adiante, mas é importante reforçar, que não é usual, nem geralmente bom, que comecemos uma partida movimentando esta.

Se você é General de um exército, dispõe de um caça hiper-tecnológico, de muito valor, mas tem apenas um modelo destes disponível em seu exército, e seu oponente sabe disso, é evidente que se você colocar tal equipamento em batalha, chamando toda a atenção possível para ele, seu oponente fará de tudo para abate-lo em uma imensa demonstração de “espírito de porco”. O mesmo se dá com a Rainha no Xadrez. Até é possível usa-la na “Fase de Aberturas”, conjunturalmente, quando for assim necessário, mas na maioria das vezes, é melhor não mexe-la muito.

Quanto ao Bispo, por outro lado, temos muito o que refletir. Ao lado do Cavalo e dos Peões a boa utilização do Bispo trás os melhores resultados na “Fase de Abertura”. Pessoalmente, na minha pequenez de jogador amador, sou um amante dos Bispos. Não receio em dizer que esta é minha peça favorita. Por mais que representem o “Clero”, no Xadrez, os Bispos são as peças de controle de distância, e junto da Rainha e das torres, são as peças que podem usufruir das maiores distâncias do jogo, nesse caso, as “diagonais longas”, para dar “tiros de precisão”. Quando estes se encontram bem posicionados, é possível modular e controlar a disputa no “Centro do Tabuleiro”, de forma a pegar um oponente pouco precavido, e abater sua torre, do outro lado do tabuleiro.

Vejamos na imagem abaixo:

Bispo do Rei em posição de “fianchetto”.

A imagem acima demonstra a posição clássica do “fianchetto”, onde brancas movem seu Peão de cima do cavalo,de G2 para G3, e abrem um espaço para que o “Bispo do lado do Rei”, isto é, o Bispo das diagonais brancas, possa controlar a diagonal longa que vai de H1 até A8 do outro lado do tabuleiro.

Cabe ressaltar que, embora este que vos fala já tenha sido muito feliz em capturar torres inimigas desta forma, e por mais que escolas de estilo de jogo, como a escola Hipermoderna, façam este tipo de abertura, de cara no início do jogo, é recomendável que este movimento venha em conjunto e seja antecedido pela movimentação de um Peão Central, e de um Cavalo.

Em geral, é sempre conveniente desenvolver ao menos um Peão e um Cavalo antes dos Bispos, pois estas peças controlam melhor o “Centro do Tabuleiro”, sobretudo os Cavalos.

Por exemplo: Peão do Rei E4, seguido de Cavalo do Rei F3, Peão do Cavalo G3 e Bispo do lado do Rei G2. Este é o exemplo de uma sólida abertura para as peças brancas, que cumpre todos os nossos critérios e nos permite a execução de um “Fianchetto” com o Bispo.

Vejamos outros exemplos da utilização do Bispo em aberturas, nas imagens abaixo:

Exemplo da abertura do “Bispo do Rei”.

Esta imagem representa uma abertura que é mais usual a jogadores de baixo nível, a “Abertura do Bispo” ou o “Jogo do Bispo”. Tal jogada inicia com a movimentação do “Peão do Rei” para a casa E4, e prossegue com o avanço do Bispo rumo a casa C4 enquanto mira no ponto fraco inimigo F7.

Por mais otimista que nosso jogador hipotético seja, caso seu adversário não seja um novato, dificilmente este irá conseguir colocar as peças nesta posição sem que seu adversário movimente seus Peões de forma a armar uma defesa.
Na imagem acima estão em amarelo todos os Peões inimigos que podem obstacular os planos do jogador que utiliza as brancas.

Como isso poderia se dar?

Vejamos na próxima e última imagem deste primeiro capítulo do guia:

Demonstração das fraquezas de tal abertura.

Em verde estão todas as peças que podem atacar o Bispo em C4, e em amarelo estão as que podem ocupar as casas entre o Bispo, e seu alvo F7. Não são poucas as combinações, nem as formas de tornar isso possível. Tal abertura com o Bispo, é um exemplo do porque devemos começar com “Peões Centrais” e com “Cavalos” antes de desenvolvermos os Bispos.

Além de todas as fragilidades demonstradas nessa abertura, o Bispo demonstra menor controle do “Centro do Tabuleiro”, e mesmo que movimentar taticamente as peças para impedir o ataque do Bispo C4 até a casa F7 possa atrapalhar a estratégia de seu oponente, construindo uma “Estrutura de Peões” de forma incorreta e afobada, a verdade é que se o jogador das peças brancas começou sua partida pensando em tomar F7 usando um Bispo, após demonstrar isso nos primeiros lances, e ver seu oponente tomando algumas medidas para impedir que isso fosse adiante, este jogador seguramente nunca iria conseguir seu objetivo de tomar a casa F7 usando um Bispo. Se não houvesse nenhuma outra carta na manga, esse jogador teria acabado de destruir a própria estratégia, e provavelmente encontraria um jogo truncado no meio do tabuleiro, com fortes possibilidades de empate.

D.A. 11/04/2020

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Nelson
Nelson

Written by Nelson

Filósofo, estudante de R.I e analista político.

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